Durante aula magna do projeto Papo Supremo, ministro do STF conversou com estudantes sobre cidadania, representatividade das juventudes negras e os caminhos para fortalecer a democracia no Brasil
Por: Elaine Casimiro, comunicação Sesi-SP
11/04/202511:04- atualizado às 11:16 em 11/04/2025
Na última sexta-feira, 4 de abril, o Sesi-SP e o Departamento Jurídico da Fiesp (Dejur) realizaram a terceira edição do projeto Papo Supremo, que promove o encontro de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com estudantes do Ensino Médio Sesi/Senai-SP. Desta vez, a aula magna contou com a participação presencial dos alunos da unidade de Jundiaí, que receberam o ministro Alexandre de Moraes e apresentaram suas experiências e projetos diretamente a ele. O encontro foi transmitido ao vivo para mais de 21 mil alunos da rede em todo o estado, ampliando o alcance do diálogo.
O tema em destaque foi “Participação Política: Cidadania e Juventudes Negras”, e o encontro cumpriu o papel central do projeto: estimular o pensamento crítico, promover o debate e formar lideranças conscientes entre os jovens.
FOTO: EVERTON AMARO / FIESP
O presidente da Fiesp e do Sesi-SP, Josué Gomes da Silva, abriu o evento com palavras de incentivo. “Nos orgulhamos muito do nível excepcional dos nossos alunos e procuramos sempre fazer com que eles cresçam cada vez mais como cidadãos, como futuros profissionais. É um tema extremamente relevante para o Brasil”, afirmou.
Josué também destacou a importância da participação política juvenil: “Eu acredito e tenho estimulado muitos deles a participarem da vida pública. São tão bem-informados que tenho certeza de que muitos serão grandes brasileiros também colaborando na vida pública do nosso país”.
FOTO: EVERTON AMARO / FIESP
Na sequência, o coordenador pedagógico da Escola Sesi de Jundiaí, Vitor de Paula, representando toda a comunidade escolar, celebrou a relevância do tema: “São assuntos fundamentais para refletirmos sobre a diversidade que compõe a nossa sociedade”.
Ele reforçou a atuação da rede Sesi na promoção da equidade. “Sou testemunha do quanto as políticas afirmativas e programas promovidos pela rede escolar Sesi têm sido motores de inspiração, mudança e oportunidade. É motivo de orgulho fazer parte de uma instituição que trabalha ativamente por uma sociedade mais justa e equitativa”, relatou.
Dois estudantes do 3º ano do Ensino Médio deram voz à juventude. Rodrigo Novo, aluno do curso técnico de Eletroeletrônica e integrante da equipe de robótica Megazord — que representará o Brasil no Mundial de Houston — compartilhou uma vivência marcante. “Nossa escola montou kits STEAM para uma ONG que os levou até crianças e jovens de Angola. Essa iniciativa impactou mais de 500 crianças. Tive o prazer de ser o professor delas, à distância, por seis meses. É gratificante ver a evolução que tiveram, acessando algo que, muitas vezes, estaria fora do alcance”, disse.
FOTO: EVERTON AMARO / FIESP
Já Eduardo Sales, do curso técnico de Administração, relatou a importância de espaços de protagonismo e resistência na escola: “Em 2022, organizamos o festival Diversifica. Foi um movimento que reuniu a comunidade escolar para refletir sobre racismo, misoginia, LGBTfobia e capacitismo, com rodas de conversa e produções artísticas. Nosso slogan era ‘Somos o passado e o presente’”.
Com emoção, ele finalizou sua fala com uma citação da cantora Elis Regina. “Temos ícones, referências, jovens e mais antigos. Isso só prova que ‘o novo sempre vem’. A juventude continua agindo, e a luta não para aqui”, reforçou.
Após as apresentações e relatos dos projetos desenvolvidos pelos estudantes da Escola Sesi de Jundiaí, Rodrigo e Eduardo passaram a palavra ao ministro Alexandre de Moraes. Eles destacaram que, segundo pesquisas acadêmicas, muitas lideranças políticas iniciam sua trajetória ainda no ambiente escolar. Nesse sentido, a escola pode ser um espaço de incentivo ou de barreira para a formação de lideranças de grupos historicamente minorizados, como o das pessoas pretas.
“A reflexão que a gente deixa é o questionamento de como as instituições públicas e as escolas podem potencializar e contribuir para a participação cidadã das juventudes negras, ampliando a nossa representatividade em espaços de poder e garantindo os nossos direitos”, disse Rodrigo, encerrando a fala dos estudantes.
O ministro Alexandre de Moraes assumiu o centro do diálogo trazendo um panorama histórico e atual da participação política das minorias: “Para prevalecer a democracia, é preciso também de um órgão não eleito, que não dependa das vontades momentâneas do eleitorado, para garantir os direitos das minorias”, pontuou.
FOTO: EVERTON AMARO / FIESP
Moraes explicou que minorias não são definidas por quantidade populacional, mas sim pelo acesso ao poder político e econômico. “Se somarmos negros e mulheres, temos 80% da população. Mas historicamente, esses grupos não tiveram voz nem representatividade suficiente nos parlamentos e no executivo”, relatou.
O ministro destacou o papel do STF na consolidação de direitos, citando avanços recentes que ampliaram a participação política de mulheres e negros, como a possibilidade de votar a partir dos 16 anos. “Para a democracia, é mais importante ser eleitor do que ser candidato. Quando universalizamos o voto, permitimos que todos tenham voz”, disse.
Apesar do avanço, Moraes reconheceu a lentidão do progresso: “As mulheres são 52% do eleitorado, mas só 17,5% das cadeiras da Câmara dos Deputados. Dos 27 governadores, apenas dois são mulheres. De 11 ministros do STF, temos uma ministra — e nenhum ministro negro”.
Ele também falou sobre o racismo estrutural e seus reflexos: “Quando o ministro Joaquim Barbosa foi indicado ao STF, foi anunciado como o primeiro negro. Depois disseram que era o segundo, pois Pedro Leme era negro, mas se autodeclarava branco para não sofrer racismo”.
O ministro também destacou a importância da representatividade real nos espaços de poder e como ela contribui para uma democracia mais justa e plural. “Por mais que um deputado, um senador, um ministro branco seja absolutamente contra o racismo, ele nunca sofreu racismo como um negro. Pode ser totalmente contrário ao racismo, mas não vai pensar igual a um menino que sofreu o racismo estrutural desde que nasceu. Não vai sofrer a misoginia que a mulher sofre”, afirmou. E completou: “Por isso, é importante uma complementaridade. E só se avança mais rápido se, desde os bancos escolares, isso for discutido e compreendido por aqueles que não fazem parte dos grupos minoritários”.
FOTO: EVERTON AMARO / FIESP
Ele alertou ainda para os riscos do discurso de ódio e retrocessos democráticos que circulam pelas redes sociais, reforçando a importância da conscientização coletiva e da união em defesa dos direitos fundamentais.
“Aqueles que defendem a democracia, a igualdade de direitos, aqueles que defendem — não importa a cor, a orientação sexual, a crença religiosa — todos fazemos parte do mesmo grupo de seres humanos. Aqueles que acreditam nisso têm que se unir, têm que convencer, conversar, demonstrar aos outros a importância desse tratamento igualitário. É só a partir dessa conscientização coletiva de que todos temos que participar que vamos formar lideranças. Todos nós temos que apoiar aqueles que lutam pela igualdade. Ninguém quer ser mais do que os outros. Mas ninguém pode ser menos do que os outros”, afirmou o ministro.
Diante deste cenário, o ministro reforçou a importância da educação e da conscientização coletiva. “O que a Fiesp e o Sesi-SP fazem com este projeto é fundamental. É importantíssimo para que vocês, jovens, saibam o que nós temos hoje não surgiu de uma hora para outra, são resultado de lutas históricas. Precisamos formar lideranças que representem verdadeiramente nossa sociedade”, destacou.
Ao encerrar sua participação, o ministro Alexandre de Moraes parabenizou o projeto desenvolvido pelo Sesi-SP e pela Fiesp e ressaltou o papel transformador da educação na construção de uma sociedade mais justa. “O Judiciário está aqui para garantir o direito de todos, para concretizar a Constituição, concretizar a igualdade e concretizar a cidadania”, afirmou.
O encontro, marcado pelo protagonismo dos estudantes e pelo diálogo profundo sobre democracia e representatividade, reafirma a potência das juventudes e do ambiente escolar como espaço de formação crítica, liderança e transformação social.